Entrevista com Chandler Burr (Crítico de perfumes do The NY Times)

Entrevista feita com o escritor e crítico de perfumes do The NY Times, Chandler Burr.

P | O que é preciso para se tornar um crítico de perfumes? Como uma pessoa comum pode aumentar seu repertório de aromas?

R | Até onde eu sei, eu sou o único nos Estados Unidos que publica críticas sobre perfumes regularmente. Nunca esperei ter este cargo, fiz mestrado em Economia Internacional e Política Econômica do Japão e escrevia sobre isso para outros jornais. Um dia, estava na estação de trem em Paris e conheci um gênio do perfume (Jean-Claude Ellena, perfumista da Hermés). Começamos a conversar e, quando chegamos em Londres, eu lhe disse: quero escrever um livro sobre você. O livro era sobre sua pesquisa em olfato, mas também sobre perfume, claro. Por causa da obra (The Perfect Scent – a Year Inside the Perfume Industry in Paris and New York), escrevi um artigo para a The New Yorker sobre a criação de um perfume da Hermés. Então, por um ano, fiquei entre Paris e Nova York, principalmente com o perfumista Jean-Claude Ellena, criador do primeiro perfume da grife. Foi uma experiência maravilhosa e eu tive oportunidade de ver todas as etapas de perto, não só a produção da essência, mas também da garrafa, o design da embalagem, o marketing, a venda para as lojas, tudo. Depois disso, o NY Times me convidou para escrever para eles sobre perfume, e eu disse: bom, pode ser, mas só se vocês me fizerem o crítico oficial de perfumes do NY Times. E eles aceitaram. Então, eu não tive nenhum treinamento especial, não sou um criador de perfumes de forma alguma, não tenho poderes especiais no nariz – e nem tenho seguro dele, acho isso ridículo. Eu só sei como cada composto de um perfume cheira porque já os cheirei demais separadamente. E eu amo perfume, a indústria, a arte, a criação, tudo.

P | Como eu descubro qual é o perfume certo para mim?

R | Obviamente, é aquele que você gosta. Mas você nunca deve comprar um perfume que não tenha usado por ao menos dois dias inteiros. Tem que sentir seu aroma no momento em que você põe, 30 segundos depois, um minuto depois, três minutos depois, dez, uma hora, ou seja, toda a sua evolução. Porque muda, e os ruins somem do corpo. Alguns dos mais belos perfumes do mundo podem simplesmente evaporar, porque são lindos, mas não têm uma boa persistência. Vá à loja, prove e peça uma amostra. Se eles não derem, volte no dia seguinte e teste de novo. Nossa percepção de aromas muda de forma muito mais dramática do que qualquer outro sentido. Varia com a hora do dia, o que a gente comeu e até com nosso humor, eu acredito. E a gente também precisa perguntar aos outros o que eles acharam. E tem que procurar, testar muitos perfumes até encontrar o certo.

P | Na sua opinião, é melhor ter vários cheiros ou escolher um só?

R | Não é questão de melhor ou pior, isso é absolutamente pessoal. Eu quero ter muitos cheiros.

P | E que perfume você usa?

R | Bom, todos perguntam isso. Normalmente, estou com até seis perfumes diferentes em locais específicos do corpo porque preciso testá-los. Não posso criticar uma fragrância se não a tiver usado por dois dias no mínimo. E não me confundo, sei qual delas está em cada parte. Mas falando dos que eu mais gosto, posso dar alguns nomes. Se eu tivesse que escolher apenas um perfume no mundo, seria o Comme des Garçons 2 feminino, ou o Bigarade para Frederic Malle, de Jean-Claude Ellena. Mas também amo o Pleasures, de Estée Lauder para mulheres. Dirty English, de Juicy Couture, desta vez masculino. Avignon, de Comme des Garçons. Piment Brulant, de L’artisan Parfumeur. E Interdict, de Givenchy.

P | A maioria dos seus perfumes favoritos é para mulheres, então?

R | Nossa, isso é uma coisa muito importante. O gravador está ligado? Pois então: a divisão de fragrâncias femininas e masculinas é completamente absurda. Trata-se de uma estratégia de marketing criada por americanos para um propósito apenas: dar a homens heterossexuais permissão psicológica e emocional para usar perfumes. Héteros americanos precisam desse tipo de coisa. A divisão é ridícula. Você não separa a arte, dizendo que Mozart é para mulheres e Beethoven para homens, que este quadro é para mulheres e aquele para homens. Um bom perfume é um bom perfume de qualquer forma.

P | Mas há um senso comum de que aromas de baunilha atraem homens e amadeirados, mulheres. Faz algum sentido?

R | De jeito nenhum, eles atraem qualquer pessoa! Repito: um bom perfume é um bom perfume. Há alguns que são muito doces e com forte base em frutas que nos parecem femininos exclusivamente porque fomos socializados a pensar assim. Só isso. O que importa é a qualidade.

P | E existe uma moda para perfumes, assim como de roupas e acessórios?

R | Com certeza. Todas as formas de arte têm modismos: arquitetura, música, literatura, pintura e também perfume. São padrões estéticos que vêm e vão, tornam-se mais e menos populares. E as influências são as mesmas: valores, cultura, todo tipo de coisa.

P | Quais são os critérios para julgar um bom perfume?

R | No NY Times, dou nota de 0 a 5 para um perfume. Há três critérios objetivos e um subjetivo para a avaliação. O primeiro é persistência na pele: quanto um perfume dura antes de ir embora do corpo. Desaparece imediatamente ou dura algumas horas? O segundo é a difusão: o rastro que o perfume deixa. Se você precisa chegar muito perto da pessoa para sentir, não é bom. Se sente de muito longe, também não é, fica invasivo. Mas se você sente de uma boa distância, tipo 1m, é uma difusão muito bem feita. E o terceiro é a estrutura, muito importante: todas as moléculas e notas do perfume devem ficar juntas. Com alguns produtos, passadas poucas horas, você só sente determinadas partes da fragrância, ela já não está mais completa. E daí o equilíbrio se perde. E o quarto é subjetivo: é inovador? Belo? Ou seja, foi feito com cuidado?

P| Quais são os pontos certos para colocar o perfume no corpo?

R | Bom, para mim, um lugar muito bom é entre a mão e o pulso [mas ele mostra a parte de cima do braço, e não a de baixo, como costumamos achar], porque é uma parte do corpo que você movimenta muito, usa para pegar um copo, para tocar nas pessoas, etc. Obviamente, na nuca e no peito. Um outro lugar bom é um pequeno spray nas costas. Para mulheres, é interessante colocar no cabelo, que difunde muito bem o perfume se o seu xampu não for muito forte, claro. E também nos ombros, mas sobre sua blusa ou jaqueta, e não diretamente no corpo.