Memória Olfativa


Ele pede pra ela escolher seu perfume, e ela pega sempre o mesmo.

-De novo? Escolhe outro!
-Mas é o que eu mais gosto.
-Você não conhece os outros, como pode saber?
-Eu te conheci com esse cheiro, então é o que eu mais gosto.

Toda lembrança tem um cheiro, e quando você sente ele outra vez, vai lembrar daquele lugar, daquela pessoa, daquelas férias e junto vem as emoções que você sentiu. E não vai poder fugir. Se o perfume dele entrar no metrô você vai olhar em volta procurando-o. Se você entrar num restaurante e sentir o cheiro daquele bolo que comeu na casa da vó, aos 5 anos, é capaz dos olhos se encherem de lágrimas e o peito de saudade.
Um cheiro pode ser toda uma cena, todo um ano, toda uma vida.

Memória é um processo complexo, que se desenvolve em camadas múltiplas e circuitos neuronais complexos. A simples evocação de memórias alteram-nas por filtros e conexões neuronais novas. Portanto, não existe memória “mais forte” ou “menos forte”!

Não obstante, há memórias “mais emocionais” e “menos emocionais”!

Um estudo realizado por uma neurocientista de Brown demonstrou que, diferente de memórias evocadas por estímulos táteis, visuais, e auditórias, as memórias olfativas apresentavam inequívocos componentes emocionais e afetivos.

Mais recentemente, neurocientistas de Israel demonstraram que estímulos olfativos são processados paralelamente no Hipocampo (responsável pelo armazenamento de memórias de longo prazo), enquanto memórias visuais e auditivas são processados inicialmente no Tálamo (responsável pela organização do tráfego de informações ao Córtex).

Como era de se esperar, estímulos negativos aumentavam significantemente a fixação e a evocação de memórias.

Por isso lembranças associadas a cheiros são tão “vívidas” e vêm tão “fácil”. O olfato estimula o “centro” de memória, enquanto outros sentidos são primeiramente processados no Córtex para depois se unirem no “centro” de memória.

Também por isso é mais fácil lembrar do cheiro de uma avó falecida (estímulos negativos, e.g. dor) ou de um ex-namorado importante.

Do ponto de vista evolutivo, odores ofereciam para nossos ancestrais muito distantes as melhores dicas sobre alimentos mais nutritivos e predadores mais perigosos. Os demais sensores evoluíram bem mais tarde, e receberam tratamento diferenciado.

Tudo isso parece muito menos romântico que o cheiro evocado por um primeiro beijo, ou uma primeira paixão, ou uma infância idílica. Contudo, pesquisas em terapias neuromoduladoras para recondicionamento prometem avanços para aflições disparas, desde obesidade, até um coração partido.







3 comentários:

  1. Muito interessante esse artigo, o cheiro realmente nos faz viajar, no tempo, a lugares, é incrível..

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  2. Minha namorada gosta dos perfumes que eu tenho, mas ela diz que nenhum se compara a contratipo que tive do Eternity. Foi marca no primeiro encontro e eu nem curtia perfumes como curto hoje. Mulheres ligam muito, mas muito mesmo, perfumes a momentos. Hoje seria Hypnose Homme ou Individuel, na certa, se fosse a noite. Versace Pour Homme ou Polo Black se fosse de dia. Não falham no gosto feminino.

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  3. Memória olfativa... Foi por isso que deixei de usar o Polo Blue, o Ferrari Black e não dei o Lady Million pra minha mãe... Ter cheiros no cotidiano que lembram o passado é complicado, viu. Talvez esse fora um dos motivos pelos quais criei tanto interesse em conhecer mais o mundo das fragrâncias, ter conhecimento e tentar criar uma mini coleção, pra identificar um novo vício, algo que renovasse meus sentidos, que me fizesse querer sentir o que senti no passado, mas com pessoas diferentes, ocasiões diferentes, razões diferentes...

    Mais uma vez, grande matéria e um ótimo trabalho de todos. Aquele abraço, pessoal!!!

    Sérgio Henrique.

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