Sai um copo de perfume para a mesa 2

Por - Tânia Pereirinha

Estava sentado a uma mesa do bar Del Mar, em Braga, com uns amigos, quando deteve o olhar num empregado que servia um whisky com uma daquelas garrafas com doseador. Para quem era o copo não vem ao caso, o que importa é que este instante ficará como o momento-eureka de Daniel Vilaça, empreendedor da capital minhota que, em 18 meses, criou a Ydentik, e fez dela um dos mais bem cotados franchisings portugueses.

"Abrimos a primeira loja, em Braga, no dia 8 de Junho de 2013. No fim de Agosto, abrimos a segunda em Matosinhos. Agora temos 51, incluindo duas em Espanha e uma na Irlanda. E até 14 de Fevereiro de 2015 (o Dia dos Namorados é o nosso segundo Natal) vamos inaugurar pelos menos mais seis: na Alemanha, Polónia, Bélgica, Itália, França e Suíça", afirma Daniel Vilaça, 34 anos, à SÁBADO.

A tão rápida multiplicação de lojas valeu à Ydentik o galardão Inovação Nova Marca nos Prémios Franchising 2014, atribuídos pela revista da especialidade Negócios & Franchising. Os brindes terão sido feitos com champanhe, não whisky. De qualquer forma, voltemos ao Del Mar.

Assim que viu o líquido cor de âmbar cair no copo, o empresário soube que o conceito que queria para a sua marca de perfumes "genéricos", como lhes chama, por imitarem o princípio dos medicamentos de marca branca (e, claro, as fórmulas de fragrâncias campeãs de vendas no mercado), era aquele. Em vez de uma loja, ia abrir um bar.

O líquido seria vendido a granel, como nas restantes cadeias do género, mas os doseadores iam ser iguais aos das bebidas alcoólicas. Os recipientes com os perfumes iam ser em forma de garrafa e as lojas decoradas de forma a simular o ambiente de bar, com balcão corrido e tudo. "No dia seguinte fui logo a uma loja comprar doseadores, para ver se funcionava. A partir daí começámos a de-senvolver o conceito e a colar tudo à ideia de bar", recorda. Hoje, é possível ir a uma Ydentik e pedir um shot (solução rápida e económica para quem se esqueceu de se vaporizar de manhã) ou um cocktail de perfume (fragrâncias originais, que a marca não se limita a copiar cheiros pré-existentes).

Quando teve a ideia, no segmento de mercado em questão já havia pelo menos uma marca (bem) instalada no País, a espanhola Equivalenza, fundada em 2011, com mais de 500 lojas na Europa, em África e no Médio Oriente. Mesmo assim, Daniel Vilaça nunca se deixou atemorizar pela concorrência: "É como comparar um Fiat a um Ferrari!"

Ao fim de 18 meses no mercado, revela os números que comprovam que a aposta foi ganha: "Este Natal contamos atingir os dois milhões de euros de facturação, estamos quase lá. Fazemos 20 mil litros de perfume por ano e temos 30 mil clientes fidelizados, com cartão de cliente, que sabemos que estamos a roubar à concorrência. Temos um conceito diferente, um produto muito melhor e, ainda por cima, os mesmos preços, o que até nos faz sofrer um bocadinho, porque não temos as margens que queremos."

Apesar de planear abrir uma fábrica em Braga, no segundo trimestre de 2015 – "Será a primeira só de perfumes em Portugal" –, as fragrâncias Ydentik são para já produzidas em Espanha e em França. Cá só se criam novas combinações de perfume. E descobrem-se as velhas fórmulas dos perfumes mais vendidos pelas grandes marcas: "Temos, também em Braga, um laboratório de investigação. Trabalhamos com um cromatógrafo, que é uma máquina que analisa os componentes e as quantidades do perfume. Acerta uns 90%, ao resto temos de chegar por tentativas. Eu sei fazer perfumes – já fiz bastantes. Tirei um curso nos Estados Unidos, com dois perfumistas que trabalharam para Armani e Abercrombie & Fitch, e outro em Valência. Não é preciso ser engenheiro para fazer uma fragrância, fazer perfumes é como cozinhar: é juntar arroz, batatas e carne e fazer uma receita qualquer."

A diferença, explica Daniel Vilaça, só está mesmo no preço dos ingredientes: "Os perfumes originais até saem muito mais baratos do que os nossos. As marcas compram matéria-prima em grandes quantidades, o que faz com que os preços baixem. Todas as nossas fragrâncias têm o mesmo preço, mas não custam o mesmo. Um quilo de essência de rosa, por exemplo, pode custar 100 vezes mais do que a mesma quantidade de essência de laranja."

Foi há apenas oito anos que Daniel Vilaça se lembrou de transformar em negócio a predilecção que diz sempre ter tido por cheiros e perfumes. Em 2006, depois de uns tempos a desempenhar funções de encarregado de produção de uma fábrica de painéis isotérmicos, de uns tios, deu por si sem trabalho. Tinha o 12º (ainda frequentou o primeiro ano de um curso de Design, mas desistiu): "Fui a umas feiras internacionais, tirar ideias, e resolvi abrir a Nortempresa, para fazer aromatização de espaços. Passado um tempo, abri, com o meu pai, a Airquality, para fazer marketing olfactivo, que cá era novidade, mas nos Estados Unidos já se fazia há 20 anos – estilo dar um cheiro a pão quente a pastelarias ou a carro novo a standes de usados. Tínhamos clientes grandes: Auchan, Disney, Mercedes, Tezenis. Percebemos, tal como agora com a Ydentik, que podíamos crescer com franchising. Mas nessa fase facturávamos 200 mil euros, agora estamos nos 2 milhões."


Como se faz perfume?
"É como o vinho do Porto", diz o empresário bracarense

Fórmula
Em laboratório, o engenheiro químico testa várias combinações e odores.

Maceração
O líquido é colocado em cubas de inox, em ambiente escuro e com temperaturas propositadamente variáveis.

Venda
O perfume passa pelo doseador para o frasco sem ter contacto com o ar.

Fonte: http://www.sabado.pt/